Na hora do almoço



Deu vontade de te ligar na hora do almoço. Confesso. Só pra matar um pouquinho da saudade do costume que tenho de falar com você em todo e qualquer intervalo do meu dia. Não liguei. Mas aquele pontinho de esperança que ainda existe dentro de mim ficou esperando que você ligasse só pra dizer que me ama. Você não ligou, mas eu fiquei esperando até o último minutinho. Fiquei porque apesar de saber que já não temos mais tantas coisas boas para dizer um ao outro, o jeito como você respira alto, perto demais do fone, me bastaria. 13:13 no relógio e você não apareceu, e eu também acabei não ligando. Mas só não o fiz porque estou tentando me acostumar com a sua falta, e eu prometi a mim mesma que não iria ligar brigando (mais uma vez) por você permitir, tão facilmente, que isso aconteça. Você me disse (com esse seu jeitinho que me convence sempre) que era ‘‘Melhor parar e tentar se lembrar das coisas boas que tínhamos e não se destruir e se machucar ainda mais’’. E eu, por fim, e depois de vários ‘‘fins’’, aceitei. Entretanto, os espaços vazios e silenciosos do meu dia ainda gritam, sem entender, por que não somos mais capazes de criar novas lembranças boas e felizes. A gente se gosta! Eu sei e você também sabe! Mas as brigas tomaram o lugar da paz, os sorrisos perderam lugar para o choro, a mágoa transcendeu o prazer, e as cicatrizes começaram a ficar grandes demais para se curarem sozinhas. E eu expliquei isso tantas vezes para esses mesmos vazios e silêncios que acabei convencendo a mim mesma. Seria engraçado, se não fosse triste, como eu sempre procurei um amor que eu amasse sem razão, e eu encontrei! Eu te amei sem razão alguma, até porque somos opostos que se atraem como imãs, mas agora aqui estou eu, enumerando, singelamente, os motivos pelos quais nós não damos mais certo. O nosso quebra cabeça não se encaixa mais como antigamente, e o mais triste não é nem o ‘‘Não se encaixar’’, mas sim perceber que nós já nos acostumamos com o não encaixe. Mais triste do que o fim, só mesmo aquele momento em que o a ficha cai. A ficha caiu e eu olhei para o fone, confusa e incrédula, ainda com aquela cara de que ‘‘Eu não queria que tivesse caído logo agora’’. Tu Tu Tu Tu, e a nossa ligação ficou assim, por um fio, finalizada. A gente se ama, é fato, e ainda me encanta como a sua risada estranha soa deliciosa, e eu vou sentir falta do jeito único e perfeito como o seu pé se esfrega no meu para que possamos pegar no sono. E de toda a saudade que ficará aqui dentro do meu peito, eu acho que nunca vou conseguir definir o que será mais latente: Não presenciar o modo como o sol reflete tão lindo sobre o seu cabelo, ou não poder sentir na pele como o seu corpo pequeno e compacto foi moldado para o meu grande e desengonçado. Sobre a nossa família planejada com duas crianças e um cachorro eu nem falo nada. Essa sensação de perda e luto ultrapassa qualquer palavra ou sentimento. O ''X'' da questão é que a gente se quer, mas não se bate. Até se quer mais perto, mas se repele. Quer beijos, mas vive de tapas. Ama, mas não confia no amor do outro. Quer a paz que só existe em nossos abraços, mas já não consegue mais proporcionar sossego. Queremos que juntos sejamos um laço, mas na pratica tudo se tornou um nó. A mesma mão que acaricia, dá um soco. Queremos ficar juntos pra sempre, mas não conseguimos mais nos manter. Os nossos momentos bons são ótimos e durante eles eu tenho a mais plena certeza de que ficaremos juntos para sempre! Mas daí então vem as brigas, e outra, e mais uma, e eu tenho a sensação de que não posso aguentar mais aquilo nem por um segundo. A balança que deveria estar no positivo, acabou ficando no vermelho. E que pena... Fomos vencidos! Não pela distância, o nosso pior inimigo, mas pelas brigas que se transformaram em desencanto. Eu tento e remendo as páginas rasgadas pela sua borracha, e trabalho, incessantemente, na vontade de que esse calculo dê certo. Mas o meu lápis quebrado de tanto ser apontado não consegue mais encontrar espaços não rasurados, onde possa caber um pouco mais da nossa história. Depois de toda essa matemática insana e descompassada, podemos até dizer que fomos maus administradores e que não soubemos como alavancar o nosso negócio, mas ninguém nunca poderá dizer que faltou amor, paixão e entusiasmo. E ainda não falta! Mas, aparentemente, não tem jeito! Tudo bem... A gente já não se soma mais, mas só nós sabemos como a gente se completa. E passando da matemática para a poesia, a minha consciência também sabe que hoje nós não somos nem metade do que já fomos, pra ser mais exata, nesse momento nós não somos nada! Mas o meu coração tenho toda essa certeza de que a gente ainda se transborda. 

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