Prólogo

2016

Eu nunca pensei que Paris pudesse ser tão quente. Também não imaginei que a torre Eiffel fosse tão grande. Mas eu já era grandinha o suficiente para saber que as coisas nunca são do modo como imaginamos. Sentada em um dos vários cafés ao redor do cartão postal da França, me distraí observando parisienses e turistas se misturando em cima do vasto gramado do Champ de Mars, que estava meio amarelado devido ao calor da estação. Um ano atrás, eu jamais poderia me imaginar sentada em meio a uma cidade turística, parecendo despreocupada aos olhos dos outros, aguardando o garçom me trazer o menu para que eu pudesse escolher um delicioso croissant e um café sem açúcar. Como as coisas mudam, não é mesmo?

Mas eu não estava despreocupada. Meu coração acelerado e minha perna chacoalhando embaixo da mesa eram provas disso.

-- Mesa só para uma, senhora? – O garçom me tirou dos meus devaneios com um sotaque francês forte e carregado. Passei os olhos pelo cardápio chique, mas a única coisa que eu sabia ler naquele negócio era café.

-- Estou esperando outra pessoa, obrigada. – Desafinei naquela língua estranha. Pedi um cafezinho básico e continuei encarando a multidão na esperança de que minha companhia chegasse logo.

Alguns babacas começaram a sussurrar entre si apontando em minha direção e antes que um deles tivesse o trabalho de se levantar, fechei a cara e coloquei os pés em cima da cadeira vazia à minha frente. Eu não me achava nada bonita, mas minha mãe sempre dizia que a minha pele branca combinava com meus olhos verdes e cabelos loiros escuros levemente ondulados. Meu corpo era magro graças aos anos de academia na polícia, e eu tentava me manter saudável, afinal, ser uma detetive particular não é tão fácil quanto parece.

Fiquei observando a paisagem, e meus pensamentos insistiam em me levar de volta ao passado. Enquanto aguardava, acabei flutuando nos acontecimentos que me trouxeram até aqui, e rindo da forma como uma única mulher conseguiu mudar todo o meu destino.

Ela viria, certo? Duas semanas sem nenhum contato me fizeram relembrar orações que eu já tinha me esquecido há muitos anos. Nas minhas preces eu implorava para que ela estivesse viva, mas e se...? Meu estômago despencava toda vez que aquela dúvida me assolava.


Cada minuto no ponteiro parecia uma eternidade para minha ansiedade. E se ela estivesse morta?





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