Beijo e chuva


Enquanto a chuva caia forte e a gente nem percebia, me deu vontade de fazer uma loucura. Mas roubar um banco ou roubar o guarda-chuva de uma velhinha me pareceu peixe pequeno. Deu vontade de roubar um beijo, nem que fosse para provar seus lábios naqueles mínimos segundos, antes que viesse um tapa ou um não bem grande na cara. É, deu vontade de te roubar um beijo, só pra verificar se a textura macia dos seus lábios nos meus sonhos estava correta. Deu vontade de te roubar um beijo molhado de chuva, mas fui para casa sozinha, imaginando como seria se vivêssemos em um filme sem gênero, onde mesmo depois daquele tapa, você me puxaria de volta em algum outro momento. Deu vontade de te jogar na parede, de pular na frente do carro, de dar estrelinhas ou fazer todo um espetáculo no sinaleiro, não para que você me pagasse com moedinhas, mas sim com aquele beijo. Tudo bem, cenário perfeito, chuva caindo e eu... Encharcada. Encharcada de vergonha e medo. É assim que sempre me sinto, mesmo com um calor dos infernos. Aí o beijo foi na bochecha mesmo, sem estralo, apenas com aquele barulho enorme do silêncio. Mas não tem problema porque eu te quero, te quero até no silêncio. Meus sonhos pseudo-românticos zombam de mim, provando que me gabar por te esquecer é bobagem. Que vou querer roubar vários beijos mesmo sem chuva, sem morangos, sem assalto a velhinhas ou sem sinaleiros. Mas ah, quer saber? Esquece esse beijo. Vou devolver o guarda chuva da velhinha, usar as moedinhas do meu espetáculo imaginário no sinaleiro e comprar uma Coca. Vou parar de dar estrelinhas na chuva e apreciar as que estão no firmamento e vou desligar a TV, porque o nosso filme sem gênero acabou e não importa quantos ‘’Bombril ou Assolan’s’’ eu coloque na antena, a TV a gato pifou. Vou embora com minha Coca e sem aquele beijo, em silêncio, não tem problema. Eu sei e sei que você também sabe que eu te quero, te quero mesmo no silêncio. No sussurro frenético da chuva e no silêncio brando da madrugada. 

- Jessy Mendes

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